Muitas vezes não conseguimos constatar uma distinção entre mediunidade, animismo e paranormalidade, ou usamos estes conceitos indevidamente. Por isso convêm definirmos cada um deles. Quem é médium e quem não é?
Encontrando esta dificuldade, Kardec indicou através do Livro dos Médiuns definições para os diferentes tipos de manifestações. Orientou e criou meios de educar a mediunidade. Com estas instruções práticas o manual não se destina apenas aos médiuns, mas a todos que observam os fenômenos espíritas e lidam com eles.
Como definiu sucintamente o codificador, mediunidade é a faculdade dos médiuns de servirem de intermediários entre os Espíritos e os homens. Esta qualificação geralmente se dá àqueles cuja percepção está claramente caracterizada por efeitos patentes de certa intensidade (item 159 Livro dos Médiuns). A faculdade não se revela em todos da mesma maneira, cada um tem uma aptidão especial para certos gêneros de fenômenos.
Numa acepção ampla qualquer pessoa está apta para receber e transmitir comunicação dos Espíritos seja qual for o desenvolvimento de sua faculdade, assim sendo, médium é toda pessoa que sente algum grau de influência dos espíritos. Na questão 459 do Livro dos Espíritos, Kardec afirma que todos somos passíveis de receber influência dos Espíritos, ainda que da forma sutil de intuição.
No sentido restrito esta afirmação se torna equivocada pois observamos que nem todos podem produzir manifestações ostensivas, tais como psicofonia (o espírito se comunica através do médium), psicografia (médium escrevente), efeitos físicos e outras.
Voltando então à proposição: ‘Todos somos médiuns’ é verdadeira quando o termo ‘médiuns’ é tomado em seu sentido amplo, e falsa quando tomado no sentido restrito.
A palavra animismo deriva do termo ‘anima’, que significa a própria alma ou personalidade ou a manifestação da alma. O próprio Espírito passa o conteúdo do seu ego que está adormecido. Neste tipo de manifestação o espírito utilizando-se das forças contidas nos corpos que o envolvem, produz fenômenos de tamanha intensidade que podem se confundir com fenômenos mediúnicos, mas que nada tem com isso, pois são derivados do próprio espírito e não de outrem.
Paranormalidade é a definição que se dá a uma grande variedade de fenômenos, supostamente anômalos ou estranhos ao conhecimento científico ou fenômenos pouco usuais, sejam físicos ou psíquicos. O termo é amplo e envolve a parapsicologia, telepatia (capacidade de adquirir informação sem a necessidade de uso de ferramentas como a expressão verbal, escrita, corporal ou sinais), telecinésia (capacidade de se movimentar um objeto com a força da mente), materialização e outros. Nesta forma os efeitos paranormais são do próprio espírito, que utilizando de recursos disponíveis na natureza age com a força de seu animismo.
Diferenciando os fenômenos mediúnicos de anímicos, podemos afirmar que o primeiro trabalha como medianeiro entre os espíritos desencarnados e os encarnados, sendo que no segundo, os anímicos, não existe concurso ou a participação dos espíritos desencarnados. Na paranormalidade, além de não haver a influência de espíritos desencarnados, embora seja um fenômeno totalmente anímico, lida com as leis universais da natureza, diferindo pela intensidade e raridade do fenômeno.
A palavra animismo tem sido usada indevidamente como sinônimo de mistificação e maus costumes mediúnicos, destruindo nascedouros de grandes valores, pois os médiuns novos se fecham, bloqueando a evolução pela qual deveriam passar. É preciso que o subconsciente e o inconsciente do médium sejam depurados de seus conflitos para exprimir com a necessária claridade o que vem do mundo espiritual.
A transmissão, no inicio, pertence mais ao Espírito do médium que com o decorrer do treinamento aprende a silenciar a sua voz interna e canaliza com fidelidade a mensagem comunicante. Nos fenômenos de mediunidade podem ocorrer escapes anímicos. Quase a totalidade das comunicações mediúnicas são anímicas-mediúnicas, ou seja, a comunicação final é uma mistura que se origina da entidade comunicante mais o que arrasta da consciência do médium.
Na mediunidade existem tantas variedades quantas são as espécies de manifestações. Kardec diante desta constatação e visando esclarecer a todos estudiosos desta fenomenologia, realizou um verdadeiro tratado, destacando entre a grande variedade existente os principais tipos de mediunidade que são os falantes, videntes, sonambúlicos, curadores, pneumatógrafos (obtém a escrita direta) e psicógrafos (escreventes).
Todo médium é sensitivo, mas nem todo sensitivo é médium (item 164 Livro dos Médiuns). Um cego reconhece, não se sabe como, a aproximação de uma pessoa, tal qual um médium sensitivo sabe que um bom Espírito causa sempre uma boa e agradável impressão, e um Espírito imperfeito, pelo contrário, desperta uma sensação difícil, aflita e desagradável. No item 150 e 151 do Livro dos Médiuns que fala de pneumatofonia, que são barulhos imitando vozes, acontecem de duas maneiras: uma voz interna que repercute no foro íntimo com palavras claras e distintas e outras vezes vozes exteriores como se viesse de uma pessoa que está do nosso lado. Estes fenômenos são sempre espontâneos e só muito raramente podem ser provocados.
Todos podem sofrer obsessão de espíritos desencarnados e encarnados, em seus diferentes níveis de enquadramento, quais sejam: obsessão simples ou influenciação, fascinação, subjugação, possessão ou Poltergeist.
A mediunidade, neste momento evolutivo do nosso planeta, nada tem a ver com dom ou algo especial, é compromisso cármico, pois o espírito encarnante já vem com esta aptidão fisiologicamente ajustada, independendo da condição moral de seu portador.
Muitos autores caracterizaram Jesus como o maior médium que tivemos na Terra. Ledo engano, ele não necessitava de nenhum espírito desencarnado para auxiliá-lo nas suas tarefas de cura ou pregação, muito menos nas desobsessões. Jesus buscava no seu próprio espírito evoluído todos os recursos que necessitava para cumprir sua missão de redenção da humanidade, portanto afirmamos que o Cristo é o maior paranormal que já conhecemos por aqui.
A mediunidade pré-existe à codificação de Kardec, que cita em um de seus livros, “A Gênese”, a Festa de Pentecoste, que ocorria no qüinquagésimo dia após a Páscoa, com a descida da Espírito Santo, inspirando os discípulos e desanuviando a sua inteligência. Isso tudo nada mais era do que fenômenos mediúnicos para facilitar-lhes a missão, marcando a tarefa dos apóstolos, mesclando-se efeitos físicos e intelectuais, e consolidando todas as construções do Cristianismo, nos séculos subseqüentes.
Concluindo, para considerarmos um espírito encarnado como médium é necessário estudo e conhecimento elevado da Doutrina Espírita, pois sem este embasamento poderemos incorrer em confusão, educando quem não tem mediunidade e deixando potenciais mediúnicos de lado. Poucos espíritos encarnados que possuem potencial mediúnico são realmente médiuns, pois usam somente do animismo em suas manifestações. Portanto, os médiuns verdadeiros devem zelar sempre por sua constante evolução e devem passar pelas diversas etapas de aprimoramento até chegarem à transmissão sem a interferência do seu ego interior nas mensagens.
BIBLIGRAFIA
Livro dos Médiuns, Livro dos Espíritos, A Gênese – Allan Kardec;
Seminário sobre Mediunidade – Clovis Nunes;
Nos Domínios da Mediunidade – Chico Xavier;
Animismo e Espiritismo – Alexandre Aksakopf.